Literatura, samba-enredo e sionismo | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Literatura, samba-enredo e sionismo

Samba-enredo baseado em obra literária é bem comum. Neste ano de 2024, dois romances inspiraram as escolas de samba cariocas do primeiro grupo. A Portela levou para a Sapucaí Um defeito de cor: amor materno e ancestralidade, visitando o livro homônimo de Ana Maria Gonçalves, com várias referências à mitologia, à cultura e à diversidade do povo negro. A Grande Rio desfilou com Nosso destino é ser onça, inspirado em narrativa mítica de Alberto Mussa, abordando a simbologia da onça no cenário artístico e cultural brasileiro, e temas como a antropofagia e os encantamentos.

Seria tudo igual aos anos anteriores, não fosse um detalhe: em pouco tempo o romance de Ana Maria Gonçalves subiu ao topo dos livros mais vendidos da Amazon. Ana Maria desfilou como destaque, foi entrevistada pelas tvs, mas Alberto Mussa sambou na pista, meio escondido.

A novidade de samba-enredo formando leitores me levou a investigar como tornei-me amante dos livros. Nenhuma escola de samba desfilava pelo sertão onde nasci e o carnaval chegava apenas pelo rádio. Sou resultado do acaso e da necessidade, um leitor do bom e do ruim. Um único livro chamava atenção em nossa casa, eu o folheava à luz de candeeiro, em noites silenciosas. De início, só apreciava as ilustrações, mas a partir dos sete anos me interessei pelas narrativas.

Refiro-me ao Antigo Testamento e aos Evangelhos de um volume intitulado História Sagrada, talvez o mais popular de todos os livros do Nordeste brasileiro, encontrado na maioria das casas sertanejas. As histórias mais famosas eram recontadas em folhetos, vendidos nas feiras e cantados por violeiros repentistas: José e seus irmãos, Sansão e Dalila, A casta Suzana, Daniel na cova dos leões, A história de Jó…

Espanta a popularidade do livro porque a Igreja Católica não recomendava a leitura do Antigo Testamento e a Bíblia foi muitas vezes proibida pela Inquisição. Demorei a descobrir que o argentino Jorge Luis Borges a apreciava, diferindo dos comentários cáusticos do português José Saramago: “A Bíblia – dizia ele – é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldades e do pior da natureza humana.” Ou ainda: “O Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa e vingativo.” Fui, portanto, formado por esse livro que me acompanha desde a primeira infância.

A colonização da Palestina por Judeus sionistas, que defendem o direito à autodeterminação e à existência de um Estado Judaico no território onde existiram os antigos reinos de Israel e Judá, se assemelha à conquista por Josué das terras a sul e a norte do rio Jordão, depois que o povo hebreu fugiu do Egito e atravessou o deserto. Há violência e atrocidades na guerra que oficialmente deflagrou-se em 1948, com a declaração de independência do Estado de Israel, guerra transformada nos últimos meses em extermínio radical dos palestinos.

Relendo o livro de Josué, percebo que a sanha destruidora de Israel se justifica desde a sua origem, como na conquista de Jericó. Está escrito: “Então consagraram como anátema tudo o que havia na cidade: homens e mulheres, crianças e velhos, assim como bois, ovelhas e jumentos, passando-os todos ao fio da espada. (…) Queimaram a cidade e tudo o que nela havia, exceto a prata, o ouro e os objetos de bronze e de ferro, que foram entregues ao tesouro da casa de Iahweh.”

Igual acontece agora contra a Palestina, em nome do povo autodenominado eleito e do seu deus vingativo. Genocídio sancionado pela memória do holocausto, um véu simbólico que valida a perpetração de todos os crimes cometidos pelo Estado Sionista de Israel.

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