Terras do sem fim é o romance de Jorge Amado que mais aprecio | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Terras do sem fim é o romance de Jorge Amado que mais aprecio

Agora que está na moda o enredo das migrações e os romancistas se deslocam pelas várias geografias do planeta, nada mais pertinente que ler e reler Terras do sem-fim (1943). Neste romance existe uma épica na luta pela conquista da terra, as florestas de São Jorge dos Ilhéus, e o movimento migratório de nordestinos fugitivos da seca, aventureiros do sudeste, libaneses, sírios, turcos e russos, desejosos de enriquecer no eldorado do cacau. Jorge Amado, primeiro do que todos e melhor que ninguém soube registrar a “polifonia das vozes sociais, cada qual com a sua inflexão própria e o seu próprio universo de valores”, como escreveu José Paulo Paes, mostrando-nos um Brasil que não é feito apenas da mistura de três raças: portugueses, índios e negros.

Já a salvo do realismo socialista que marcou seus primeiros escritos, no enredo de Terras do sem-fim ainda prevalece a luta dos coronéis pela posse de latifúndios: a gente do Coronel Horácio contra os Badarós. Tudo construído em meio a dezenas de pequenas tramas, histórias bem amarradas ao fio narrativo principal, como a do negro Damião, um matador de tocaia que se desgraça por causa de um encantamento. É possível identificar pegadas de realismo mágico em algumas dessas narrativas paralelas, e um certo romantismo à José de Alencar, sobretudo na idealização de tipos exóticos como o negro feiticeiro Jeremias.

Passados 79 anos do lançamento de Terras do sem-fim, ainda reconhecemos no Brasil a mesma devastação da terra, os desmatamentos, os assassinatos por encomenda e a falta de lei. Deslocou-se a lente da mata atlântica de Ilhéus para a floresta amazônica e o pantanal.  Entre a publicação de Terras do sem-fim e Gabriela, cravo e canela se passaram apenas 15 anos, mas apesar de todas as correlações possíveis entre os dois romances, em Gabriela, o assunto prevalente é o declínio do poder dos coronéis e a ascensão dos exportadores de cacau. Os personagens já não estão perdidos em matas encharcadas, temendo cobras, onças e as febres malignas, que matam em apenas três dias. Uma sociedade civil e urbana contaminada pelos anseios da gente das cidades grandes, o cinema, a música, as viagens e o consumo, de olhos voltados para o Rio de Janeiro e a Europa, já não aceita a moral antiga, a submissão da mulher, o poder sem limites dos coronéis. É também como se Jorge Amado, liberto da coerção do comunismo, pudesse deixar solta a sensualidade, os anseios feministas e o gosto pelos signos do capitalismo.

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