Para refletir no dia do aniversário | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Para refletir no dia do aniversário

Percebo a passagem do tempo na maneira como as pessoas mais jovens me tratam. Meu nome vem precedido do respeitoso senhor, de professor ou mestre. Outras vezes usam o abominável tio.

As sociedades antigas possuíam ritos de passagem para cada idade e envelhecer era um percurso natural. Ninguém tentava escamotear o tempo. Inventaram um eufemismo para quem ultrapassa os 60 anos – terceira idade. Não entrei na terceira idade, fui direto à velhice, sou um velho. Não finjo uma vitalidade que já não possuo, não me exibo em festinhas e jogos da terceira idade, como se fosse um macaco de circo. Ah, desculpem, esqueci que os animais estão proibidos nos circos.

As pessoas buscam a juventude através da reposição de hormônios, vitaminas e sais minerais, aplicando botox e silicone, fazendo implante de cabelo e cirurgia plástica. Na televisão, vê-se o resultado desse esforço: um desfile de rostos sem expressão e sem mímica, deformados pelo clostridium tetânico e pelo bisturi dos cirurgiões.

Os egípcios se mumificavam acreditando que levariam o corpo para o além. Muitos se transformam em múmias na vida terrena. Nada contra os cuidados com o corpo. A ginástica, uma alimentação saudável, a mente bem exercitada, o convívio com amigos e familiares queridos, ter uma ocupação e um bom projeto de vida são essenciais para envelhecer com saúde. E cuidar da aparência é prova de que se está bem. Mas que alguns exageram na receita, não resta dúvida. Millôr Fernandes escreveu que não existe coisa mais ridícula do que uma índia velha do Xingu num vestido ou uma senhora de mais de oitenta anos fazendo topless em Ipanema.

Esse culto exagerado à beleza e à juventude é uma expressão do medo de morrer, uma resposta desesperada à ansiedade e à depressão do século XXI. Tentamos nos eternizar trocando ombros, joelhos, peitos, bundas, cabelos, pele. E quando alguém já parece no fim, no ponto em que o mais digno seria morrer, é arrastado para uma UTI, onde teimam em mantê-lo vivo.

Se é que bater o coração e respirar significa estar vivo.

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