Dor, dor, dor... até quando? | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Dor, dor, dor… até quando?

Perdi o sentido de escrever. Há tantos dramas e tragédias oferecidos de graça, a cada minuto, nos mais variados formatos de jornalismo e imagens que o artista sente-se perplexo, sem a compreensão do que seja arte. Sim, Hannah Arendt, o mal foi banalizado, muito mais do que você descreveu filosoficamente. Basta ver o corpo assassinado de Lázaro Barbosa, arrastado pelos policiais que o mataram, a nudez cruelmente exposta. Basta ver as comemorações e o júbilo pela matança, o esquecimento de que a missão policial era prender e levar a julgamento perante a lei.

O filósofo romeno E. M. Cioran lamenta que a civilização vez por outra retorne à barbárie. No Brasil, mergulhamos de cabeça na barbárie e parece que nunca mais haverá retorno à civilização. Já tivemos isso algum dia? Já, sempre. O modelo fundador de nossa sociedade é a escravidão, praticada com uma crueldade sem limite, com o direito de explorar a liberdade de outro ser humano igual, de negar-lhe corpo e alma, sem escrúpulos nem remorso, respaldado em sistemas políticos absolutistas, no colonialismo, na falsa ciência, na ganância pelo enriquecimento e em dogmas religiosos.

Esse também é o alicerce do governo Jair Bolsonaro e dos que o mantêm no poder a serviço dos mais obtusos interesses, sobretudo econômicos, jamais o interesse do povo e da Nação. Ensandecidos, proclamam o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Mas que Deus é esse, Jesus? Nunca, nunca. O Cristo morreu pela nossa libertação, pelo reconhecimento de nossa igualdade humana, impregnada de divino.

O mais elevado sentimento cristão é a compaixão. Compadecer-se significa colocar-se no lugar do outro, sentir a sua dor. Tudo o que não vimos no espetáculo de um corpo baleado inúmeras vezes e arrastado como se fosse lixo. O corpo é sagrado como toda a natureza é sagrada. Mas isso escapa ao governo que possibilita matar 65 mil ipês e exportá-los criminosamente, visando apenas o lucro de quem exporta a madeira e o de quem ganha terras para a criação de gado e tornar-se mais rico.

Tudo obedece à mesma lógica da escravização em que se fundou este país perverso, a de olhar os seres vivos e enxergar neles apenas a possibilidade do lucro. Milhões de assassinatos pesam no inconsciente formador do Brasil. É necessário trazê-los para o consciente e expiá-los.

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