Eu não vi a live de Caetano Veloso | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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Eu não vi a live de Caetano Veloso

– Verdade, cara? Não acredito que você perdeu.

Há dias, num grupo de artistas, intelectuais, jornalistas, escritores, etc., no qual fui incluído, anunciaram a live como o maior acontecimento de 2020. Poxa, pensei. Deve ser mesmo um estouro. Aconteceram e deixaram de acontecer tantas coisas nesse ano maluco que se finda. Será que não estão exagerando?

O grupo tem pessoas na maioria de São Paulo, Rio e Minas Gerais, artistas que circulam por esse eixo, se curtem, admiram e estimam. Tratam-se por querido e trocam muitos afagos e elogios. É bem engraçado. Sisudos como João Cabral e Graciliano estranhariam. Mas o tempo é mesmo de auto e heteroajuda.

Vários amigos lamentaram que eu não tivesse visto a live. Caetano parecia grave, suave, as mãos trêmulas, nostálgico. Pediu desculpas por errar uma letra e mostrou a genialidade de suas composições. Todos se emocionaram quando ele rememorou o Natal de Santo Amaro. Parecia que apenas ele viveu essa época, ninguém, nem os mais velhos, se lembravam que existiu.

Deixei a casa dos meus pais em 1968, com apenas 16 anos, embalado pela música “Alegria, alegria”. Acompanhei a carreira de Caetano e, aqui no Recife, nunca deixei de ver os seus shows. Numa entrevista que o tropicalista fez com Mick Jagger, dos Rolling Stones, Jagger afirmou que havia pelo menos dez bandas tocando melhor do que eles no metrô de Nova Iorque.

Não creio que existam dez artistas como Caetano Veloso no Brasil. Mas tem muita coisa boa rolando fora do mesquinho e autossuficiente eixo Sudeste. Difícil é romper a barreira que separa São Paulo e Rio de Janeiro do restante do Brasil, sem ter de mudar-se para lá, mesmo em tempos de internet, YouTube e redes sociais. As pessoas não se arriscam a ver e a gostar de novas propostas. É mais fácil, seguro e cômodo continuar aplaudindo os de sempre. Até precisaram criar uma espécie de cotas nos prêmios literários para dar ingresso no mercado a talentos marginais.

O Brasil é um país isolado pelo idioma português. Se um artista mora e produz sua arte em Belém do Pará, ele primeiro tem de vencer o periferismo interno, o auto preconceito, o rótulo de regionalista. Depois ele tem de superar o periferismo dentro do Brasil, a condenação de ter nascido e viver na região Norte. Se ele consegue parear-se aos “valores nacionais”, ou seja, aos brasileiros do sudeste, torna-se como todos eles periférico em relação ao mundo.

Por mais que difamem o regionalismo e se proclamem universalistas.

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