O que Caetano Veloso fazia no carnaval do Recife? | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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O que Caetano Veloso fazia no carnaval do Recife?

Cansado de trios elétricos, música axé, dança da galinha, bloco Filhos de Gandhi, de Gil e Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Daniela Mercury, Chiclete com Banana e Timbalada, o baiano resolveu cair de pára-quedas na rua do Bom Jesus.

– Fui convidado a passar o carnaval em Pernambuco, falou com singeleza.

Convidado por quem? Seja bem-vindo! Mas será que gastaram o nosso dinheiro para Caetano desfilar pelo Bairro do Recife? Ninguém me paga cachê para brincar carnaval.

– Isso aqui parece muito com a Bahia. Senti-me em Santo Amaro, com treze anos de idade. 

Nesse tempo, ele saía anônimo como toda a gente, num vestido emprestado de uma irmã, e brincava pra valer. O carnaval era assim, desde a idade média. Até o rei ia para a rua de máscara, para que ninguém o reconhecesse. Caetano subiu em cadeiras na Bom Jesus, querendo ver melhor os batuqueiros, os blocos e os clubes. Em volta dele, todos se assanhavam.

– Olha Caetano, olha!

– Uau!

E assim, o Mano não deixava de ser visto por ninguém, nem pelos blocos e batuques, que paravam na frente dele e evoluíam em louvor e honra ao Divino Maravilhoso, nem pelos foliões espectadores (mais espectadores que foliões), nem pelas câmaras da tv. Ah!, essas não tiravam o foco do moço. Davam aquela chamada com jeito falso de que iam passando e, casualmente, por força do destino, vejam só! olhem lá! quem está ali? será ele mesmo? É, é sim.

– Caetano, e aí, brincando o carnaval no Recife?

(Rápido, não alarga a deixa, porque se ele pega o microfone não para mais nunca de falar!).

– E então? (será que Caetano pergunta “e então?”) Há tempo eu desejava conhecer os maracatus, e agora estou conhecendo. O carnaval do Recife é muito parecido com o da Bahia (não é erro do colunista, Caê repetiu a comparação várias vezes).

É mesmo, agora me toquei! O carnaval do Recife está ficando parecido com todos os carnavais do Brasil. As pessoas só querem aparecer, se mostrar. As que estão fora do desfile, nos camarotes ou cadeiras, bem mais do que as que dançam no meio da rua. Os políticos, as celebridades locais, nacionais e internacionais não param de se mostrar, num périplo cansativo de um camarote para outro. É preciso ser visto, a qualquer preço. As câmeras se ocupam muito mais desses desfiles nas alturas, do que das pobres agremiações, lá embaixo. E os convidados globais (preciso reler o verbete no Houaiss), aquela turma da televisão que cobra caro para ser vista ao lado de políticos ou bebendo cerveja? O anonimato da máscara perdeu a vez. Dê um jeito de aparecer, custe o que custar. O carnaval é uma plataforma de lançamento para a fama e para as eleições. Mano Caetano está noutra, mas faturou legal.

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