Os guardiões da moral - É proibido proibir | Ronaldo Correia de Brito | site oficial
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apontar o dedo

Os guardiões da moral – É proibido proibir

Os guardiões da moral, o Movimento Brasil Livre, Alexandre Frota – primeiro a ser recebido pelo ministro da educação Mendonça Filho – não toleram qualquer forma de representação artística da zoofilia. Mas, ela está presente nos mitos fundadores da humanidade. Os censores tupiniquins se revelam tão radicais quanto os árabes, que incendiaram a Biblioteca de Alexandria porque para eles o único livro era o Corão.

Primeiro, os ignorantes irão retalhar a faca e em seguida queimar os quadros de Leonardo da Vinci, Michelangelo, Baucher, Rubens, Cezanne, Dali, Dominique Lacomte e outros, representando o “intercurso amoroso” (uso o eufemismo com medo da censura) de Leda e o Cisne. Uma perda tão irreparável quanto os livros queimados pelos radicais islâmicos. Os quadros são belíssimas representações da “cópula” entre a princesa espartana Leda e Zeus, a divindade maior dos gregos, que fecundou na moça dois ovos, de onde nasceram Castor, Pólux, Helena e Clitemnestra.

A obra de arte que precisa ser destruída urgentemente pelos reacionários burros é um antigo poema épico da Mesopotâmia, uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Felizmente, bem poucos a leram ou ouviram falar nela. Trata-se da Epopeia de Gilgamesh, livro onde se narra a vida de Enkidu, que vivia livremente na companhia de um bando de gazelas, com quem ele transava doidamente (eita, escapou!). Help! Lá para as tantas, Enkidu é seduzido por uma prostituta (a prostituição na Mesopotâmia tinha um caráter religioso e sagrado, não significava o mesmo que para Alexandre Frota, quando ele se vendia à indústria do filme pornô) e abandona suas gazelas. Simbolicamente, Enkidu se afasta de sua natureza animal primitiva, se elevando à condição de homem.

É necessário queimar o Mahabharata, livro fundador da cultura indiana. Nele, tem a história de uma mãe-peixe que é fecundada pelo esperma de um rei, nascendo uma filha de nome Satyavati, de quem descende uma geração de heróis. As mitologias indiana, egípcia, mesopotâmica e grega são pródigas em zoofilias, representadas de todas as formas artísticas, incorporadas ao cotidiano das pessoas como respirar e beber água. No templo de Khajuraho, perto de Nova Deli, há centenas de representações de práticas sexuais, inclusive zoofilia. Khajuraho foi erguido com dinheiro público do reino, na Índia medieval, e é considerado patrimônio da humanidade. Mas, os censores brasileiros precisam viajar à Índia e botá-lo abaixo.

Por favor, leiam o subtexto dessa crônica, sintonizem com a ironia. E não aceitem que o nosso país retorne à barbárie, ao obscurantismo. A pior forma de dominação é aquela que nos priva do conhecimento. Só o conhecimento liberta.

Censura não.

Censura nunca mais.

Liberdade para todas as formas de expressão artística.

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