Viva o Teatro Brasileiro! Viva Redemunho! Ronaldo Correia de Brito
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Viva o teatro brasileiro! Viva redemunho!

Viva o teatro brasileiro! Viva redemunho!

Há algum tempo, num jantar com Luis Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura, falei de minha angústia quando tenho de ceder um texto para cinema ou teatro. Veríssimo, no seu tom baixo e pausado de voz, como se a fala o deixasse com preguiça, me deu um conselho: O melhor é vender caro, não aceitar fazer a dramaturgia ou o roteiro e, de preferência, nunca assistir.

Ah, ah, ah, ah!

O conselho não valeu para a encenação de Redemunho, dirigida por Anderson Aragón. Cedi o texto com a maior confiança e gosto. Não precisei trabalhar dramaturgia porque os quatro contos foram encenados sem mudar uma vírgula. Viajei ao Rio para assistir o espetáculo.

Poucas vezes fiquei tão feliz com o resultado de uma encenação. Esperava muito, mas confesso que não esperava tanto. O resultado é belíssimo, porém na concepção de Rilke, nas Elegias de Duíno: “Pois que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos?”

O meu texto – melhor seria dizer a minha palavra – é valorizado pelas duas atrizes e pelo ator. Ganham concretude, viram sementes plantadas, no ponto de brotar. E brotam. Percebi nos rostos da plateia a comoção e o transtorno. Lembrei que essa é a função do teatro, desde antes dos gregos, desde a tragédia. Conhecemos a afirmação de Kafka, a de que não acreditava em nenhuma arte que não causasse transtorno.

Nesse tempo demótico, onde o sagrado cede ao vulgar, é espantosa a encenação de Anderson Aragón, Ana Carbatti, Alexandre Dantas e Claudia Ventura; a música de Alfredo Del-Penho, os movimentos criados por Sueli Guerra, a cenografia de Doris Rollemberg, os figurinos de Flavio Souza, a luz de Anderson Ratto, o trabalho de toda uma equipe empenhada e dadivosa. Menção a Christina Carvalho, na produção executiva.

Preciso reencontrar Luis Fernando Veríssimo e convidá-lo a assistir Redemunho. Fará bem ao seu humor. O teatro se representa por uma máscara que ri e outra que chora. Talvez pelo excesso de sofrimento do nosso país, desejamos sempre a diversão fácil. Redemunho conduz alguns espectadores ao choro. De puro júbilo. De alegria em constatar que ainda fazemos excelente teatro no Brasil.

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